Um Mundial em 10 pedaços

Por João Vicente Scarpin

"Não há como descrever um mundial." Estas palavras foram fixadas na minha memória em 2011 pelo nosso campeão do mundo Luiz Giacomo, quando conquistou o titulo na categoria a acima de 60 anos. 

Fixou, mas confesso que até hoje não havia entendido. Até Hoje. Participar de uma prova da elite mundial é uma experiência única e Salerno 2013 provou ser um cursinho intensivo com índices elevadíssimos de aceitação. 

Preparação e concentração é um mantra para qualquer um que deseja passar por tal desafio. Superstição é uma característica brasileira. Como bom brasileiro, usei a mesma bermuda e meia da última corrida no Brasil, tomei duas xícaras de café logo cedo e levei uma banana para comer durante a prova. Uma generosa banana, que planejei comer um pedaço por cada uma das 10 voltas do percurso de Salerno. 

O plano furou pelas três primeiras voltas. Meu pelotão estava composto por 6 italianos, 4 espanhóis, 4 alemães, 2 franceses e diversas outras nacionalidades que desempenhavam dignamente uma corrida de mundial. A única coisa que se comia até aqui era asfalto. E esses rapazes estavam com fome. 

Entre a terceira e quarta volta os italianos armaram uma jogada brilhante. O pelotão seguia em linha quando o capitão deu um grito de guerra e todos italianos saíram do alinhamento e partiram para um sprint individual, atordoando todos que seguiam pois naquele momento não havia mais quem seguir. O resultado foi a formação de dois pelotões: um das nações individuais e outro nas nações coletivas. Fantástica jogada! 

Desgarrado do pelotão líder, passei a dar atenção a minha banana. Meu pelotão andava mais lento, numa velocidade incomoda para mim. Pela quinta volta estava patinando sozinho entre os dois pelotões, incapaz de alcançar os líderes, que se beneficiavam da fuga em pelotão e mais veloz que o segundo pelotão. 

Pela sétima volta a banana e os treinos das últimas semanas no Brasil começavam a fazer efeito. Alguns atletas do pelotão líder foram ficando para trás e meu patins parecia render mais. Recuperei 3 posições só mantendo o passo. 

Antes de abrir minha última volta, o último pedaço de banana ficou atravessado. Um francês descia a reta de chegada para cumprir sua meta. Passou por mim como se tivesse acabado de largar. Olhei para trás e nem um sinal do pelotão. O cara é uma máquina. 

Os últimos 4 quilômetros foram os mais espetaculares. Alguns italianos já estavam reconhecendo os brasileiros e uma pequena torcida formou-se na última curva. Era hora de começar a se despedir desse maravilhoso cenário. Alegria e nostalgia misturavam-se. Tantas novas amizades e novas metas a serem alcançadas voltam para o Brasil que finalmente entendo que um mundial não se descreve, se vive. 

2 comentários:

  1. Deve ser uma sensação única...Única e repetida a cada mundial!!!!Adorei seu artigo,joão Vicente.

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  2. Muito bem citado jão, vc vera que essa fome estara nos proximos treinos ate o ano que vem, porém voce ainda tem berlim pela frente, aperta esses caras mano e vai que é tua... acredita e ao invez de ser surpreendido surpreenda!

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